Chegou ao fim uma das séries mais importantes e queridas da televisão. A série de drama House MD, teve seu último capítulo vinculado na Fox Americana no dia 22. House termina e deixa uma legião de apaixonados pelo mal humor do médico e seus casos incríveis.
Aqui você encontra o final da série para baixar.
Pra quem não tem problemas com spoiler, o texto abaixo é do TvDependente, e resume um pouco o que foi o último capítulo da série.
[SPOILERS] E assim se chega ao fim de uma era. Depois de gritos, lágrimas, sorrisos, discussões e uma data de lições de vida, “House” termina a sua jornada de oito anos com um episódio que como tantos outros finais de série está destinado a gerar controvérsia.
Muita gente não vai gostar do episódio. Para muita gente, vai ser daqueles finais simplistas, cobardes que deixam muitas pontas levantadas e questões por resolver. Eu não me incluo neste grupo e digo-o já no início do que se prevê, ser uma longa crítica. É com felicidade que digo que este final me satisfez, e me deixa pronta para abandonar a série e seguir para outras e é isso que o último episódio deve fazer.
House: I’m dead, Wilson. How do you want to spend your last five months?
House (Hugh Laurie) está morto. Não literalmente, não fisicamente. House está vivo, para si, para Wilson (Robert Sean Leonard) e para Foreman (Omar Epps), mas o que ele era já não existe. Durante o episódio House vai tendo, com a ajuda das mais queridas personagens que passaram pela série, revelações, sobre si próprio, sobre a sua relação com Wilson e com as outras personagens, sobre a vida e sobre a morte. No final, House, contra tudo o que sempre defendeu, muda. Felizmente a ambiguidade mantém-se.
À partida, House não quer ir para a prisão para não perder os últimos meses de vida do amigo, mas a minha mente está treinada à figura dele, e não posso deixar de me interrogar até que ponto é que House não deseja, por motivos egoístas, fugir à sentença. Claro, House já cumpriu uma pena que poderia ter sido menor, por escolha própria, devido a sentimentos de culpa (que denunciavam na altura, e mais uma vez, toda a sua humanidade), mas sabemos que não gostou de lá estar. Para além disso, sabemos que House gosta de desafiar as regras só pelo simples prazer de o fazer e a verdade é que não é a primeira vez que o vemos ir a extremos para poupar uma estadia na prisão.
House: Is this hell? An eternity of people trying to convince me to live?
Independentemente disso, o episódio é passado numa espécie de limbo, fazendo lembrar o autocarro da quarta temporada, mas em forma de prédio em chamas, em que diversas pessoas do passado de House o tentam trazer de volta à vida, em forma de alucinação.
Mas nem todas estão do mesmo lado, Cameron (Jennifer Morrison) surpreendentemente assume o papel do diabo, e é ela que aponta o dedo à cobardia do protagonista e deixa a maior pista de que isto seria já tudo um plano orquestrado por House. Mas já lá vamos, primeiro há que realçar a excelente química entre dois personagens que juntos deram bons momentos à série e que me deixaram verdadeiramente nostálgica. Depois há que sublinhar a importância crucial de Cameron na decisão final de House e do facto de ter sido ela, a primeira a ter a coragem de abandonar House, a pessoa que o salva da morte efectiva. Coragem contra cobardia, apenas dois dos conceitos em destaque no episódio.
Kutner: Death’s not interesting. You exist for what’s interesting.
Quanto às outras personagens, Kutner (Kal Penn), mesmo na mente de House continua a ser uma personagem divertida, à procura do interessante, de entusiasmo, uma sua versão mais nova. Por seu lado, Amber (Anne Dudek) é uma espécie de versão House feminina, e mais uma vez criou bons momentos, defendendo a racionalidade, os puzzles, a medicina, contra a amizade de Wilson, as emoções e frustrações, a lógica contra a emoção. Entra em cena, Stacy (Sela Ward) que faz o contrário e mostra a House a vida que poderia ter tido, mas que ainda pode ter, usando o amor, não só o de Wilson, mas o de uma mulher, para lhe dar alento e motivação para continuar vivo. Mas para além do amor, Stacy usa ainda outro tema que muita relevância teve ao longo da série, o da religião.
Stacy: Don’t be logical. Be desperate.
Este foi um episódio que deixa muito subentendido, mas eu vejo esta situação da religião como fulcral. Em certo ponto do episódio, o paciente da semana, fala da sua experiência com a heroína e de como esta o fez ver Deus. Ora, House sempre procurou um significado para a vida, algo mais, como tão bem Stacy realçou. Eu penso que talvez tenha sido essa vontade, essa procura, para além da situação delicada em que se encontrava, quer em termos legais, quer na sua amizade com Wilson, que tenha levado House àquele prédio em chamas.
Apenas podemos imaginar, mas é depois da conversa em que o paciente se voluntaria para ir para a prisão na vez de House, pensando que não teria nada a perder, que lhe surge a ideia de fingir a própria morte. Na minha cabeça, consigo imaginar House e o paciente a dirigirem-se à casa e injectarem-se com heroína, o paciente pronto a terminar a dor, a deixar o mundo um lugar melhor e House na esperança de encontrar o significado que procura, já com o plano na cabeça, um plano que lhe permitisse fugir à lei, ficar com o amigo, ser feliz. Mas é aí que lhe vem a dúvida. Se não há nada para além disto, vale a pena viver? Vale a pena sofrer pelos que amamos? Vale a pena curar pessoas que vão morrer de qualquer maneira?
Vale, e é a essa conclusão que House chega depois da conversa com Cameron, e altruisticamente finge a própria morte de modo a poder passar os cinco meses que lhe restam com Wilson, longe de tudo e todos. Ironicamente, fazer quem o ama sofrer pela sua partida é provavelmente a coisa mais egoísta que já o vimos fazer, mas só o facto de sabermos que ele e Wilson estão bem, juntos, a aproveitarem a vida, e de que afinal as pessoas mudam (mesmo que para isso tenham de morrer) é redenção suficiente.
Pelo meio tenho de realçar a cena do funeral. Os dez minutos para o fim do episódio acabaram por denunciar o twist que se seguiu mas mesmo assim, foi de génio mostrarem-nos como seria o funeral de uma pessoa considerada idiota. A hipocrisia de que House tantas vezes falava vem ao de cima mesmo no seu funeral. Tudo bem que estas personagens, cada uma à sua maneira nutriam carinho por House, mas não deixou de ser irónico ouvir a sua mãe considerá-lo um bom filho, ou ser Wilson, supostamente o seu único amigo, o único a dizer o que todos sabem ser a verdade. Mesmo assim, tudo o que foi dito é verdade, e apenas confirma o que todo o fã mais atento sabe, House nunca foi o monstro que toda a gente levianamente pensa, apenas alguém com uma noção de integridade diferente, e um tipo de romantismo especial. É alguém com dificuldade em lidar com as normas e com dificuldade em lidar com sentimentos, isso não o faz má pessoa, fá-lo apenas difícil de aturar.
Wilson: The truth was, he was a bitter jerk
Também a montagem final merece uma palavra, a última vez que vemos estas personagens, traz um final satisfatório e até feliz a uma série que nunca o foi. E se a muitos isso pode chatear, e a mim própria me faz alguma confusão, terminei o episódio a sorrir enquanto me despedia das personagens que tanta companhia me fizeram. Chase (Jesse Spencer) toma o lugar de House e tão bem fica aquele nome na porta; Foreman é salvo dos sentimentos de culpa pela morte do protagonista; Cameron demonstra que às vezes um novo início é a resposta para a felicidade e Taub (Peter Jacobson) agradece a House ser um bom pai. House e Wilson vão literalmente juntos até ao pôr-do-sol e ao contrário da cínica música do primeiro episódio, “You can’t always get what you want”, aqui é a versão mais alegre do que aquela que tínhamos assistido antes (cortesia de Amber no final da quarta temporada), de “Enjoy Yourself”, também ela uma música cheia de ambiguidades e duplos sentidos. Wilson tem os dias contados, mas por enquanto, Carpe Diem, meu caro Wilson.
House: Did you never see “Dead Poet’s Society”? Carpe diem.
Notas:
A referência a “Dead Poet’s Society”, que catapultou Robert Sean Leonard para o estrelato.
O paralelismo, mais uma vez presente, com Sherlock Holmes, que também forjou a sua própria morte.
A parada incrível de antigos personagens e que bom foi revê-los.
Concluindo, só não dou nota máxima ao episódio porque houve algumas coisas um pouco mal contadas e talvez ter feito um episódio mais longo tivesse sido acertado e sim, muito ficou por resolver e a mim isso também me chateia. Muito havia por explorar, e deveriam tê-lo feito ao longo da temporada. No entanto, isso não é defeito deste episódio, onde noto uma clara vontade de terminar com um final em grande que compense a lealdade dos fãs e a simpatia do público. Por último, e fala alguém que cresceu a ver a série, obrigada “House”, foi um prazer!